segunda-feira, 11 de julho de 2011

Apontar culpados não basta, temos que assumir responsabilidades

Muito da discussão, tempo e dinheiro gastos em reformas no ensino superior não passa de onanismo intelectual perto dos problemas enfrentados pelos ensinos fundamental e médio no Brasil. Leiam abaixo trechos do artigo "Precisamos de educação diferente de acordo com a classe social", de Gustavo Ioschpe. Eu só faria a correção que muitos dos professores de agora já são produto desse desleixo educacional.
O secretário da Educação do Rio Grande do Sul, José Clovis de Azevedo, declarou, em evento oficial em que falou como palestrante, a respeito de uma escola que tem o mais baixo Ideb de uma cidade da Grande Porto Alegre, que "o importante dessa escola não é o Ideb, mas o fato de ser uma escola inclusiva", pois recebe alunos de áreas de baixa renda etc. Essa é apenas uma manifestação mais tosca e descarada de um sentimento que você já deve ter encontrado em uma roda de conversa quando, por exemplo, alguém defende a escola de tempo integral porque tira a criança da rua ou do contato com seus amigos e familiares. (...)

Ao comentar a proposta de lei em palestra recente, Rosa afirmou ser contrária a ela, pois sua aprovação traria grande dificuldade à secretaria, que se veria atolada de pedidos de alunos de escolas ruins querendo ir para escolas boas, e também causaria grande estigma aos professores das escolas ruins. É uma visão ecoada por muita gente boa que, sempre que ouve alguma medida da área educacional, se pergunta como isso impactaria seus profissionais.  (...)

Ouvimos a todo instante sobre a necessidade de "valorizar o magistério" e "recuperar a dignidade do professor", que é um adulto, que escolheu a profissão que quis trilhar e é pago para exercê-la. Apesar de o aluno ser uma criança e de ser obrigado por lei a cursar a escola, nunca vi ninguém falando na valorização do alunado ou na recuperação de sua dignidade. (...)

Porque aquele aluno, quando sair da escola e for buscar um emprego, não vai poder dizer: "Eu não sei a tabuada, não falo inglês nem sei o que é o pretérito imperfeito, mas o senhor deveria me contratar, porque eu nasci numa favela, meu pai me abandonou quando eu tinha 2 anos". Da mesma forma, se exportarmos um produto mais caro e de menor qualidade que seus concorrentes, não poderemos esperar que o consumidor final decida comprar o nosso produto por ele conter uma etiqueta que diga: "Atenção, produto fabricado em país que só aboliu a escravidão em 1888 e foi vitimado por secular colonialismo predatório". O que importa é aquilo que o aluno aprende. É mais difícil fazer com que esse aluno, nesse contexto, aprenda o mesmo que outro de boa família? Sem dúvida! Mas o que precisamos fazer é encarar o problema e encontrar maneiras de resolvê-lo.
Antes de racionalizar sua crítica, certifique-se de que leu e entendeu o artigo inteiro. Seguem alguns trechos de artigos que li no site do professor Simon Schwartzman (vá ao site para ler os artigos, há gráficos e tabelas também).

"Sergei Soares: A importância relativa dos salários dos professores", artigo de Sergei Suarez Dillon:
Os professores da rede privada ganham em média R$ 1047 contra R$ 3320 na rede pública. Os números não são muito confiáveis por que a amostra para o DF é pequena e os professores na rede pública do DF só tem uma matrícula enquanto os da rede privada trabalham em várias escolas. Padronizando por horas trabalhadas os totais são R$ 1512 contra R$ 3378. (...)

Os professores da rede pública do DF tem de longe os maiores salários no Brasil. Já os resultados são bem medíocres – a rede pública do DF fica no IDEB (8 a série) em 2009 atrás das redes públicas do Acre, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso e São Paulo – todas redes cujos salários são muito inferiores ao salário no DF.

Enquanto a discussão educacional for dominada pelo tema salário de professores, não vamos passar nem perto de temas que poderiam ter um efeito maior sobre a qualidade educacional.
"Quem quer ser professor":
Os microdados do ENEM de 2008 permitem saber responder em parte à qustão sobre quem escolhe a profissão de professor no Brasil. Dos cerca de 2.3 milhões de pessoas que fizeram a prova naquele ano, 1.7 milhões responderam à pergunta do questinonário sobre que profissão escolheram para seguir. Destes, menos de 10% disseram que queriam ser professores, e a média de seu desempenho na parte objetiva da prova foi de 37%, quase 10 pontos abaixo da média dos que preferiam os cursos de engenharia e ciências humanas.
"Ainda os salários dos professores":
Esta tabela mostra a grande vantagem salarial dos professores de instituições federais, e, no outro extremo, a baixíssima remuneração dos que trabalham em educação infantil. No ensino fundamental e médio, a renda por hora semanal trabalhada nas redes estaduais é maior do que nas escolas privadas, que se aproximam mais das redes municipais. (...)

Também não se considera aqui os benefícios de longo prazo de aposentadoria, por exemplo, que são muito maiores no setor público do que no setor particular.  Uma análise mais detalhada que toma em consideração estes benefícios adicionais foi feita por Fernando de Holanda Barbosa Filho,  Samuel de Abreu Pessoa e Luís Eduardo Afonso, disponível aqui.
E para finalizar, o artigo "Expansão do ensino superior depende de investimento na educação básica, dizem especialistas", publicado no Jornal da Ciência:
- O grande gargalo do ensino superior está no ensino básico. Corremos o risco de sofrer um apagão de capital humano e precisamos estabelecer um projeto para o Brasil para os próximos 50 anos, afirmou o professor Isaac Roitman, membro titular da Academia Brasileira de Ciências, para quem o País precisa estabelecer políticas públicas para a educação desde a etapa de zero aos três anos de idade. (...)

- Os problemas estão na formação básica dos alunos e, no caso do ensino privado, na falta de capacidade de pagamento das mensalidades, disse [o consultor educacional da Associação Brasileira de Mantenedores do Ensino Superior, Celso] Frauches, que defendeu a adoção pelo País de um Sistema Único de Educação Básica, nos mesmos moldes do Sistema Único de Saúde.

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Dô tutoria e pá, portugueis, miguxeis, é nóis.


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