domingo, 14 de junho de 2009

Na dança das cadeiras política, a forca é apenas um instrumento de corda

Trecho de comentário de Marcelo Soares sobre a cobertura dos pré-pré-candidatos às eleições de 2010:
Eu costumo brincar que isso não é cobrir política. É cobrir políticos (pra não dizer que é cobrir politicagem). E essa abordagem tem uma influência grande no desinteresse do cidadão médio pela política.

Ela sacraliza o papel do marquetim político, esse engenho e arte de criar imagens sem conteúdo pra ganhar seu voto. Ela também reforça a impressão de que a política, essa atividade que teoricamente visa atender as necessidades da população por meio de representantes eleitos, é um território seqüestrado por personagens que estão interessados apenas na ocupação de lugares. Ao ocupar lugares, apropriam-se das benesses neles contidas.
Diz-se que agora com as redes sociais esse problema será resolvido, evidenciando a obsolescência da imprensa tradicional. Ledo engano. Os blogs e afins podem, sim, contribuir e muito para a transparência e acompanhamento políticos. Mas podem também amplificar essa confusão entre reportagem e propaganda, forma e conteúdo. Principalmente se lembrarmos que a prestação de contas de um blog é menos transparente do que de outros veículos de comunicação - normalmente assumimos que não há interesses ou conflitos financeiros em blogs.

É muito mais fácil (e mais "humano", segundo um humanismo rasteiro) discutir candidatos, intenções e partidos do que discutir idéias e argumentos. O que se tornou aborrecidamente comum é o festival de falácias usadas pelos comentaristas (do tipo "você discorda porque é pelego", "não há debate se você não usa as minhas premissas" ou "seu argumento está errado porque foi usado por meu desafeto"). Para muitos, a validade de um argumento é menos importante do que sua capacidade de convencimento. Curiosamente, são as mesmas pessoas que acreditam que uma notícia (mesmo que fantasiosa) replicada em milhares de sítios escuros é mais confiável que outra, de menor "impacto social".

Assim permanecemos com o mesmo problema de antes, mas em maior escala. A observação do Marcelo se aplica também à internet. Ou seja, com a profusão de informações sem indicadores de sua qualidade necessitamos agora, mais que nunca, saber avaliar as informações e opiniões que nos são dadas. Blogs são ferramentas que podem ser usadas para fins investigativos (jornalismo) ou não. Jornalismo é o processo investigativo que pode ser publicado num blog ou não.

(O título deste post é baseado em comentário de Josias de Souza referido pelo Marcelo Soares).



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3 comentários:

  1. "mas na verdade mostra que os pseudo-grevistas saíram de onde estavam e foram até onde estava a polícia, do lado de fora da USP (uns dez minutos de caminhada)."

    Você desconhece os eventos. Os manifestantes foram até o portão da USP porque a manifestação estava programada para ser lá. Chamavava-se inclusive "trancasso" porque a ideia era trancar o portão principal e por ESTE MOTIVO, e não o contrário, como vc supõe, que a polícia estava lá.

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  2. (esse comentário acima na verdade se refere a esse outro post, mas como eu já deveria supor o sujeito escreve sem ler antes).

    Se eu desconheço a verdade ou não, ou quando haviam programado a manifestação, é irrelevante. Eu sei o tanto quanto eu li, e dado que no politburo do atraso acadêmico brasileiro só aceitam as fontes "próprias", eu usei os relatos "confiáveis".

    Se você tem algum problema com os fatos relatados você deve conversar com o Pablo Ortellado, que foi quem disse:
    "saíram em passeata para o portão 1 para repudiar a presença da polícia". Para ver se ele muda os fatos.

    Então quer dizer que o objetivo era trancar os portões da Universidade, em um arroubo de democracia? Isso sim é privatização da Universidade. Prá não falar em sequestro e invasão. Aliás, se a polícia estava fora da USP por que falavam em "invasão da PM"? (releia o primeiro depoimento do post).

    Aliás, qual motivo (contrário à sua explanação) eu "suponho" para a PM estar lá? Na frase minha que você destacou, qual o erro?

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  3. O anônimo terá de se entender também com Caio Vasconcellos e Ilan Lapyda, que afirmam num artigo duplipensante: "O conflito que se deu depois do fim da manifestação pela retirada da PM".

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