domingo, 22 de abril de 2012

Dadaísmo intelectual: universidades publicam mal. Talvez se as fizermos produzir patentes eu saio bem na foto.

Lembra-me a brilhante conclusão de que, ao observar crianças cada vez mais mal alfabetizadas e com defasagem matemática, deve-se expandir o leque de disciplinas holísticas (porque, afinal, as uvas estavam verdes).

Folha.com - Ciência - Governo ignora cientistas em debates importantes (entrevista da professora Helena Nader, presidente da SBPC) - 19/04/2012
A universidade até pode fazer patente, mas esse não é o seu papel. O grande produtor de patentes deve ser a iniciativa privada. A Capes [Coordenação de Pessoal de Nível Superior] hoje pontua programas de pós-graduação com patentes. Mas querer que a universidade se responsabilize por patentes é um erro, mesmo que sejam feitas em parcerias com empresas. Essas parcerias ainda são muito frágeis. (...) Hoje, um professor com dedicação exclusiva em uma universidade pode, pela legislação, dedicar um dia por semana para um projeto em parceria com uma empresa. Mas isso pode causar problemas no Ministério Público, que entende que ele está deixando de fazer pesquisa e ensino.
Essa é uma crítica a opiniões populistas, como por exemplo que "não podemos dar mais importância a uma publicação do que uma patente. Nós temos que dar importância à patente." Uma publicação permite que todos se beneficiem da descoberta, adicionando ao corpus acadêmico, enquanto uma patente é um monopólio artificial oferecido pelo governo. Ou, nas palavras de alguém que culpava as universidades pela falta de empreendedorismo brasileiro, "se você publica uma descoberta, você perde o direito de pedir uma patente." Dá prá ver que perigo seria se cientistas favorecessem patentes à publicações... sem falar que patente não é sinônimo nem indicador de inovação. Mas governos sempre irão preferir soluções fáceis e erradas, se puderem maquiar o problema.

E não se esqueça: se você não conseguir atingir seus objetivos, desista e invente um outro objetivo qualquer, dizendo que aquele outro não era mesmo importante.

Atualização (24 de abril de 2012): O sistema de atribuição de patentes sempre aumenta a possibilidade de patentes de acordo com a Lei de Parkinson, sem "freios e contrapesos". Dois artigos acadêmicos contestando a importância de patentes em ciência:
Joly Y, 2010. Open biotechnology: licenses needed. Nature Biotechnology 28(5): 417 -- 419 (doi:10.1038/nbt0510-417)
Pennisi E, 2009. Systematics Researchers Want to Fend Off Patents. Science 325 (5941): 664 (doi:10.1126/science.325_664)

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