segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Devemos nos preocupar menos com quantidade e mais com qualidade

Trechos de entrevista de Glaucius Oliva, que vai assumir a presidência do CNPq, ao Estadão:
Do ponto de vista da produção científica, temos de nos preocupar profundamente com a questão da qualidade, do impacto e da relevância das pesquisas. O Brasil não deve mais se preocupar em aumentar o número de publicações e sim em buscar qualidade, impacto e relevância. Finalmente, a internacionalização. A ciência hoje, para ter qualidade, deve ser feita em parceria com os outros cientistas do mundo, em projetos colaborativos conduzidos por equipes multinacionais. Não basta o intercâmbio de pessoas. (...)

O sistema de avaliação delineia o que vai acontecer com a ciência que é feita. Se ele valorizar o número de publicações e o fator de impacto, os pesquisadores vão publicar artigos e procurar revistas de alto impacto. Mas também é preciso introduzir no sistema de avaliação fatores que garantam a qualidade e que promovam as abordagens multidisciplinares. (...)

Os comitês acabam optando por usar uma cientometria. Jogam os números de publicações no computador, multiplicam pelo fator de impacto, relativizam pela posição do autor, dão pontos de acordo com o número de alunos que ele já orientou. Com essas fórmulas fica mais fácil. Para os 12 mil que não ganharam, você responde que foi porque tiveram menos pontos. Há uma certa objetividade, mas não é o melhor no que diz respeito à qualidade, pois se dá pouco peso à ousadia da proposta. (...)

Educação, Ciência e Tecnologia são as primeiras a sofrer cortes. E parte da culpa é nossa, dos cientistas, que ainda não encaramos como parte essencial de nossa missão acadêmica a divulgação da ciência. As pessoas ainda acham que isso é perfumaria, mas é questão de sobrevivência da ciência. É um problema cultural. Não somos treinados para fazer divulgação e não somos valorizados por fazer isso. (...)

Não se faz mais ciência naquele modelo antigo, no qual a sociedade dá o dinheiro para o cientista e o considera sábio o bastante para fazer o que quiser com esses recursos. Hoje sabemos que a sociedade tem outras demandas e o gasto do dinheiro público precisa ser muito bem justificado. A ciência precisa estar contextualizada com as demandas da sociedade. (...)

Nós, os paulistas, conquistamos a liderança porque o Estado de São Paulo, depois que perdeu a guerra de 1932, tomou uma decisão histórica e escreveu na bandeira da USP "Scientia vinces" (Vencerás pela ciência). A razão do sucesso econômico do Estado de São Paulo é justamente fruto do forte investimento que fez em ciência. A ciência venceu. E tem de continuar investindo mais que o resto do Brasil para manter a liderança. Se eu colocasse mais dinheiro do CNPq em São Paulo, o Estado deveria colocar ainda mais para continuar na frente do País. Qual Estado diz hoje que vai destinar 1% de toda a arrecadação tributária para ciência e tecnologia e cumpre? Só São Paulo. E é melhor que seja assim, pois nos dá a liderança. (...)

Penso que deveria haver um número limitado de excelentes periódicos, com apoio expressivo, linhas editoriais efetivas. Não precisamos de 7 mil revistas, como o Brasil tem hoje. Poderíamos ter 100 excelentes revistas. O grande desafio para a ciência brasileira é ter algumas boas revistas com visibilidade internacional. (...)

Uma maneira de você financiar revistas nacionais seria adotar políticas de acesso aberto. A agência faz o pagamento da pesquisa, o pesquisador paga pela publicação e o acesso a ela é aberto. Passo a dar dinheiro não só para a revista, mas para o pesquisador, e ele paga a publicação em revistas nacionais.
(via @rcalsaverini)

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