quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Está certo quem disse que eu estava errado (*)

Nota de Pedro Doria sobre a nova onda de anti-semitismo, agora aprovada pelos nossos intelectuais de estimação:
Na segunda-feira, o chefe do departamento do Sul Asiático da Chancelaria britânica foi preso por ‘intolerância religiosa’. Rowan Laxton teria dito ‘fucking Israelis, fucking Jews’ (tradução não literal: israelenses de merda, judeus de merda) enquanto assistia o noticiário na academia de ginástica da London School of Economics. Os outros presentes pediram que se moderasse, ele continuou exaltado.

Solto sob fiança. Laxton não é o responsável pelo Oriente Médio, mas estão sob seu comando os embaixadores de países como Afeganistão, Paquistão e Índia, onde o conflito entre Israel e Palestina tem repercussões. Embora seja honesto dizer que o Foreign Office britânico tem um histórico pró-árabe, o atual chanceler é judeu.

É um incidente embaraçoso embora não tão grave – provavelmente será afastado de seu cargo. O curioso é a aposta que circula na blogosfera britânica. Os jornais Daily Telegraph e The Times deram a notícia. The Independent, The Guardian e a BBC, considerados de centro esquerda, ainda permanecem mudos sobre o incidente.

É um diplomata em cargo importante. Não há dúvidas de que é notícia. Mas fica parecendo que os (bons) jornais estão misturando linha editorial e noticiário, pecado grave na imprensa.
O viés dos jornais engajados (em reescrever a história) é óbvio, mas achei interessante o reconhecimento pelo Pedro Doria do problema. Notícia que não os interessa simplesmente não é notícia (o RA que o diga). Prender alguém por estupidez é demais pro meu gosto, mas incrível mesmo é a justificativa tautológica do racismo dada por um comentarista no mesmo post (comentário número 21):
Um dos efeitos colaterais da política de Ataques Preventivos do Bush e da Reação Desproporcional de Israel é angariar antipatias mundo afora. Aí surgem casos como o desse diplomata inglês, ou pessoas que não concordam com a morte de inocentes sendo pintadas de terroristas, anti-semitas, etc.
Ou seja, reclamar dos EUA de merda ou dos israelenses de merda é apenas um efeito das políticas adotadas pelos EUA de merda e por Israel de merda. Se os EUA ou Israel não fizessem merda ninguém os chamaria de países de merda (com todos os seus habitantes de merda). Estupradores, racistas e preconceituosos de todos os matizes adoram essa desculpa de criminalizar a vítima, onde o crime seria apenas um "efeito colateral" provocado pela vítima ou por alguém associável à vítima. E, claro, tanta merda só poderia vir desses reacionários que concordam com a morte de inocentes.

(*) O título foi inspirado numa outra nota do PD, no mesmo post.



Powered by ScribeFire.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Eu costumo aceitar todos os comentários que não sejam ofensivos ou SPAM. Mas antes, leia a política de comentário do blog. Aceite, do fundo do seu coração, que seu comentário poderá ser rejeitado.

Por favor, não inclua nem mesmo na sua assinatura links comerciais ou que não sejam relacionados ao post - o comentário será rejeitado e entrará na fila de SPAM.

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails