terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Qualidade é lucro e lucro é qualidade

Trehos de opinião de Carlos Alberto Di Franco no Estadão:
Algumas críticas ao jornalismo, amargas e corrosivas, têm a garra do pessimismo. Irritam-se, alguns, com a modernização da mídia e vislumbram interesses espúrios no sucesso empresarial.

O jornal, como qualquer negócio, não existe para perder dinheiro. A crítica procede de quem perdeu o trem da história ou, pior que isso, não sabe o que é enfrentar o batente. Ganhar dinheiro com informação não é um delito. Estou cansado de repetir. É um dever ético. O lucro legítimo decorre da credibilidade, da qualidade do produto. E a qualidade é o outro nome da ética.

A ética informativa não é um dique, mas um canal de irrigação. A paixão pela verdade, o respeito à dignidade humana, a luta contra o sensacionalismo, a defesa dos valores, enfim, representam uma atitude eminentemente afirmativa.

A ética, ao contrário do que gostariam os defensores de um moralismo piegas, não é um freio às justas aspirações de crescimento das empresas. Suas balizas, corretamente entendidas, são a mola propulsora das verdadeiras mudanças.

(...)

A "mcdonaldização" dos jornais é um risco que convém evitar. A crescente exploração do entretenimento em prejuízo da informação de qualidade tem frustrado inúmeros consumidores de jornais. O público-alvo da mídia impressa não se satisfaz com o hambúrguer jornalístico. Trata-se de uma fatia qualificada do mercado. Quer informação aprofundada, analítica, precisa e confiável.

É preciso investir na leveza formal. Sem dúvida. O recurso à infografia, o investimento em didatismo e a valorização da fotografia (o arrevistamento das primeiras páginas tem provocado reações de surpresa e aprovação) são, entre outras, algumas das alavancas do crescimento. Mas nada disso, nada mesmo, supera a qualidade do conteúdo. É aí que se trava a verdadeira batalha. Só um produto consistente tem a marca da permanência. Qualidade editorial e credibilidade são, em todo o mundo, a única fórmula para atrair novos leitores e anunciantes.
Jornais, como qualquer empresa privada, possuem (ou deveriam possuir, no livre mercado) um único objetivo: satisfazer o consumidor. Qualquer desvio desse objetivo é punido com a perda de leitores para um concorrente - que deve estar atento aos deslizes dos competidores. Há alguns grupos "independentes", que classifico como invejosos do sucesso alheio, que criticam a "grande mídia" por não entenderem esse simples fato. Há até pseudo-economistas financiados pelo governo que engrossam o coro dos "independentes", enquanto estão confortavelmente insulados do plebiscito contínuo que é o mercado. Se um jornal cresce sem se preocupar com a qualidade, ele está apenas refletindo a idiotização do leitor. O jornal é conseqüência da exigência do leitor, e não a causa (apesar de haver um "feedback" positivo). Porém é muito mais fácil criticar um jornal por não tomar para si a responsabilidade em educar do que a árdua tarefa de consertar o sistema educacional. Da qual os jornais certamente se beneficiariam.

De qualquer modo, espero que os "independentes" possam sair das tetas do governo e comecem a assumir responsabilidades através do risco que o livre comércio oferece.


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