domingo, 5 de outubro de 2008

Conservadores à direita e à esquerda, mas liberais nunca!

Trechos de artigo de Roberto Fendt na Folha (o link é para o Instituto Liberal, que apanha ambidestramente), comentando a onda do "fim do capitalismo", e em especial a uma possível derrota dos liberais brasileiros:
Aqueles que atribuem os males do mundo aos liberais americanos, que nos teriam metido nesse imbróglio financeiro, ignoram dois fatos. O último presidente liberal americano foi John Quincy Adams, cujo mandato durou de 1825 a 1829. Também liberais foram os primeiros presidentes americanos -George Washington (1789-1797), John Adams (1797-1801) e Thomas Jefferson (1801-1809)-, mas não o foi o antecessor de Quincy Adams, James Monroe (1817-1825).

Desde então, os Estados Unidos foram presididos por políticos de todos os matizes, menos liberais.

...

Já os liberais brasileiros estão fora do circuito dos diversos matizes da social-democracia que nos governa desde pelo menos 1994, aí incluída a atual administração.

Quanto à crise, os liberais brasileiros se opõem a qualquer plano de "salvamento" dos bancos e demais instituições financeiras, preocupando-se, sim, com os recursos dos cidadãos comuns depositados e investidos nessas instituições.

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Os liberais brasileiros não estão comprometidos com um "pensamento único". Um grande número de liberais é favorável a que não haja nenhuma intervenção do governo no sistema financeiro, já que a liberdade de tomar riscos deve vir acompanhada da responsabilidade de arcar com as conseqüências. Mas outros, tendo em conta o caráter sistêmico da crise e o fato de que na raiz da solução do problema está a capitalização do sistema financeiro, recomendam alternativas sem benevolência com as instituições, seus gestores e acionistas, como a aquisição de participações acionárias.

Do exposto, fica claro que as críticas não se dirigem aos liberais, mas aos conservadores e social-democratas. Por essa razão, tenho recomendado paciência e tolerância com aqueles que, por ignorância, nos atribuem o que pertence a terceiros.
Em artigo do New York Times de 1999 vemos que o imbróglio já era previsto, com informações que os não-liberais adoram esquecer (tradução minha):

In a move that could help increase home ownership rates among minorities and low-income consumers, the Fannie Mae Corporation is easing the credit requirements on loans that it will purchase from banks and other lenders.

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Fannie Mae, the nation's biggest underwriter of home mortgages, has been under increasing pressure from the Clinton Administration to expand mortgage loans among low and moderate income people and felt pressure from stock holders to maintain its phenomenal growth in profits.

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In moving, even tentatively, into this new area of lending, Fannie Mae is taking on significantly more risk, which may not pose any difficulties during flush economic times. But the government-subsidized corporation may run into trouble in an economic downturn, prompting a government rescue similar to that of the savings and loan industry in the 1980's.


Em uma ação que poderia aumentar as taxas de propriedade imobiliária entre minorias em consumidores de baixa renda, a Fannie Mae Corporation está diminuindo as restrições de crédito em empréstimos que ela obterá de bancos e outros financiadores.

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Fannie Mae, a maior seguradora de hipotecas americana, tem estado sob crescente pressão da administração Clinton para expandir os empréstimos hipotecários entre pessoas de baixa e média renda e sentiu pressão de seus acionistas para manter seu fenomenal crescimento nos lucros.

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Ao se voltar, mesmo tentativamente, para essa nova área de empréstimos [subprime], a Fannie Mae está assumindo significativamente mais risco, que pode não trazer dificuldades em tempos de bonança econômica. Mas a empresa, subsidiada pelo governo, pode ter problemas em um período de declínio econômico, levando a um resgate governamental similar àquele das poupanças e indústria do empréstimo na década de 80.
Ou seja, a crise do subprime é, guardadas as devidas proporções, o resultado de um bolsa-família de primeiro mundo. Eu encontrei uma análise interessante dessa crise em alguns posts do Rodrigo Constantino [1], onde ele comenta o "dano moral" propiciado pela interferência governamental: as empresas de risco deixam de calcular os riscos de empréstimo pois contam com a resgate estatal (alguém ouviu falar de reestructuration ou downsizing das empresas com a corda no pescoço?) e os mutuários não tem informação nem incentivos para controlar seus empréstimos.

As referências foram obtidas a partir dos blogs De Gustibus e Resistência, a quem agradeço.

[1] uma visão da Escola Austríaca sobre a crise:
 http://rodrigoconstantino.blogspot.com/2008/09/de-quem-culpa.html
 http://rodrigoconstantino.blogspot.com/2008/09/morte-do-neoliberalismo.html
 http://rodrigoconstantino.blogspot.com/2008/10/ganncia-dos-especuladores.html


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Um comentário:

  1. interessante pq segundo o próprio clinton, as origens da atual crise vieram das medidas do bush de incentivar a economia americana pós 11/9 a investir em setores como real-state, somados a um certo relaxamento da fiscalização e incentivos errados...

    muito provavel que as origens da crise tenham vindo de um misto das duas situações (a que vc relata e a que o clinton relata) de forma que é provável que as causas da crise, como querem que os americanos acreditem em época eleitoral, não esteja concentrado nem na administração de um lado nem na do outro

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