quinta-feira, 2 de outubro de 2008

A coisa pública - a USP não tem dono?

Trecho de carta do Professor João Barata publicada no blog do Marcelo Leite, comentando o caso de plágio no Insituto de Física da USP:
A natureza dessas questões, porém, deve sim atrair o interesse da sociedade em geral, pois diz respeito à condução da coisa pública na universidade brasileira, às dificuldades de criação de uma tradição acadêmica e científica em uma sociedade atrasada, patriarcal, corporativista e autoritária e, por fim, à postura individual freqüentemente observada em acadêmicos diante de questões relacionadas à imagem das instituições em que atuam.

Sem querer me estender demais nessas considerações, vale dizer que um dos aspectos mais lamentáveis que vivenciamos nesse episódio foram as repetidas demonstrações daquilo que chamo de "fachadismo uspiano": uma atrofia moral, abundantemente observada no seio da USP, que se manifesta na tentativa de preservar a todo custo a imagem externa da instituição como a de a mais importante universidade do país, livre de vícios e máculas. Segundo essa prática, todos os escândalos e todos os desvios de conduta devem ser internamente abafados e ocultados para que a sociedade externa não altere sua visão da universidade como sendo a de uma vestal erudita e serena, impoluta e estática. Não é necessário dizer a pessoas inteligentes e cultas que a única postura realmente eficaz em preservar a dignidade de uma instituição, qualquer instituição, é a oposta: a da transparência isenta e austera nos julgamentos e procedimentos corretivos.

Irmão do corporativismo, essa doença largamente disseminada nas instituições públicas nacionais, o "fachadismo uspiano" alimenta-se também da pusilanimidade, traço de caráter não-raramente encontrado em nosso meio acadêmico e que expressa uma característica marcadamente nacional no trato de questões públicas: o medo do indivíduo na defesa de seus direitos e interesses, fruto de uma sociedade ainda parcialmente refratária às virtudes da democracia.

Por enquanto ainda temos acadêmicos de verdade como o Barata, o Fleming, o Salinas. Mas e as novas gerações, quais exemplos eles tem ao olhar pros lados ou prá cima?


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