sábado, 12 de julho de 2008

Legislar é fácil, o difícil é educar

Trecho de entrevista com Ronald Hillbrech, feita pelo Cláudio Shikida no De Gustibus Non Est Disputandum:
Uma reação imediata típica da exposição a este vídeo é a seguinte: “Ok, eu concordo como tudo isso aí. Mas e a exploração e a luta de classes? O capitalismo selvagem? E a distribuição de renda?” O problema é que organizar a sociedade em torno dos princípios da liberdade exige uma compreensão algo mais sutil do que a interpretação “luta de classes + capitalismo = má distribuição de renda => necessidade de Estado controlador” permite perceber.

O segundo ponto é o dilema do prisioneiro. Tudo na vida tem um preço. Por mais corretos que sejam os seus princípios, se para exercê-los você tiver que pagar um preço muito alto, talvez não valha a pena fazê-lo. Isto serve para o estudante de economia que sofre do patrulhamento ideológico dos colegas e professores, para o professor que é excluído pelos colegas por não pertencer ao partido e por ter opinião própria, para o empresário que terá seu padrão de vida reduzido caso discurse contra subsídios e crédito estatal, e para os políticos que perderão votos caso prometam e/ou visem reduzir privilégios a grupos de interesse. Em outras palavras, vale a pena praticar o liberalismo se todo mundo assim o fizer. O problema é a sociedade estar presa em um equilíbrio perverso onde a alocação de talentos e a aquisição de conhecimento se direcionem a atividades rent-seeking. Aí então o preço de praticar o liberalismo pode ser demasiadamente elevado.

Enquanto isso, o Rodrigo Constantino comenta um aspecto mais prático do dilema do prisioneiro:
Marx falava de uma luta de classes entre capital e trabalho. A verdadeira luta de classes atual ocorre entre pagadores e consumidores de impostos. É espantoso ver que o foco do povo se volta todo contra os empresários corruptores, ignorando que a principal causa de corrupção está no excessivo poder do governo na economia. Enquanto um carimbo do governo decidir o rumo de um setor inteiro, enquanto uma assinatura do presidente selar o destino das empresas, claro que os empresários vão criar grupos de interesse para comprar, através de “lobistas”, os políticos poderosos. Basta lembrar do setor de telecomunicações, onde a assinatura do presidente Lula alterou a lei e permitiu a compra da Brasil Telecom pela Telemar, depois que o filho de Lula vendeu seu “negócio” para a empresa e ficou milionário da noite para o dia. Devemos ter em mente que, para sobreviver até, muitos empresários precisam pagar por fora fiscais corruptos. Se todos seguissem todas as leis excessivas e absurdas desse manicômio legal chamado Brasil, o país já estava quebrado faz tempo!

Todos que já deram algum suborno para policiais que tentavam achacar com base em alguma lei estúpida, como esta nova que impede o motorista de tomar uma única taça de vinho, sabem do que estou falando. Todos que já trouxeram alguns produtos do exterior sem declarar, porque o governo resolve impedir a livre importação cobrando impostos extorsivos, sabem do que estou falando. Todos que já trabalharam ou contrataram trabalhadores sem assinar carteira, pois os encargos são proibitivos, sabem do que estou falando. Todos que já compraram algo em um camelô ou de um sacoleiro, sabem do que estou falando. Todos que já mandaram dinheiro para o exterior para fugir de confiscos criminosos feitos pelo próprio governo, sabem do que estou falando. Enfim, os exemplos são infindáveis, pois quando as leis são absurdas, a única solução muitas vezes é cair na “informalidade”, eufemismo para ilegalidade. Devemos boa parte de nossa riqueza a este ar rarefeito que somos muitas vezes forçados a respirar pela burocracia asfixiante.

Basicamente, ambos tratam de um mesmo problema: como sobreviver em um ambiente sem liberdade. E que nos é dolorosamente próximo.

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