sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

O País Simbólico!

Texto de Adriana Vandoni, publicado no site do Diego Casagrande:

Eram seis e meia da manhã quando vinte ônibus estacionaram e dele desceram cerca de 800 pessoas. Eram integrantes do MST que "ocupavam", pela nona vez desde 2004, a Fazenda Coqueiros, no norte gaúcho.

A Fazenda tem 7.000 hectares, desse total 2.200 hectares ocupados com florestas nativas preservadas, 640 reflorestados com pinus, araucária e eucalipto. O restante é cultivado com soja, milho, trigo e cevada. Além de pastagens para pecuária de corte.

Mas com quais argumentações o MST invade reiteradamente uma fazenda produtiva? O movimento não questiona a produtividade ou grau de eficiência dessa área, nem toca nesse assunto. O que o MST alega é o fato de "uma família apenas ser proprietária de uma terra de 7.000 ha., o que seria uma demasia".

Na terça-feira, dia 15, conversei por telefone com o Incra do Rio Grande do Sul e questionei os dados que recebi sobre a fazenda Coqueiros, indicando que o Grau de Utilização da Terra é superior a 95% (a Lei exige 80%), e o Grau de Eficiência na Exploração é superior a 180% (por Lei deve ser 100%), o que caracteriza ser uma área produtiva. A assessora do superintendente do Incra José Rui Tagliapietra disse que é muito difícil a Fazenda Coqueiros não ser produtiva, ou seja, que o Incra sabe que a fazenda está dentro das especificações exigidas por Lei. Apesar disso o órgão elaborou uma proposta que está sendo analisada em Brasília de desapropriação da fazenda Coqueiros, baseada na Lei nº. 4.132 que define os casos de desapropriação por interesse social, mesmo a terra sendo produtiva. A assessora me explicou que como a área é muito grande e eles, o Incra, precisam de terra para "cumprir um acordo feito com o MST no ano passado, elaboraram a proposta".

O Incra apóia essas invasões?, perguntei. "Aqui no Rio Grande do Sul nós (Incra) não comentamos as ações do movimento, eles são autônomos e nós apenas queremos cumprir nossa função. Sei!, respondi à assessora.
No ano passado o MST fez uma "Marcha". Os sem-terra saíram de três pontos do estado em "colunas" (Coluna do Noroeste, Coluna da Zona Sul e Coluna da Região Metropolitana). Eram cerca de 1.800 integrantes, segundo informações do Incra. Essas "Colunas" se reuniram nas proximidades da Fazenda Coqueiros. A intenção era invadir, mas por uma determinação de uma juíza de Carazinho, a invasão não se concretizou. Nessa ocasião, me contou a assessora, o Incra fez "um acordo com o MST" e assumiu o compromisso de assentar 1.000 famílias até abril de 2008 e mais mil até dezembro. "Por isso estamos em campo procurando terras disponíveis no estado para assentamento. Mas é difícil encontrar área improdutiva aqui", disse-me a assessora do superintendente. "Por isso elaboramos essa proposta para desapropriar a Fazenda Coqueiros". Perguntei como funciona isso. A resposta foi que, se aprovada em Brasília, o Incra faz uma proposta de compra da terra, "sempre a preço de mercado", garantiu ela. Isso me deixou mais intrigada ainda. Mas peraí, na Fazenda Coqueiros possui hidroelétrica, madeireira, lavoura, gado, enfim, é uma empresa rural. E se os proprietários, que estão naquela terra desde 1911, não aceitarem a proposta? "Bem, daí é iniciada uma ação judicial". Sei!, respondi.

Em 2006 escrevi sobre as invasões na Fazenda Coqueiros, onde denunciei a presença de um estrangeiro, Hugo Castelhano, atuando como líder do MST naquela região (o que me rendeu algumas ameaças). Era ele quem elaborava as ações e definia as áreas consideradas estratégicas para o movimento e que, portanto, deveriam ser invadidas. Na época, a Polícia Federal abriu inquérito para apurar a atuação de um estrangeiro em movimentos sociais, mas não consegui informação do andamento disso.

Nesta ultima "ocupação", do dia 14 (segunda-feira), a tática foi a mesma usada em anos anteriores. Um dos agrônomos da Fazenda com quem conversei me relatou que às 6 horas o pátio foi ocupado por homens que usavam roupas amarradas no rosto. Era a tropa de frente do movimento. Um deles deu um tiro na porta da casa de um empregado, de 54 anos. Rendeu ele e sua esposa, de 49 anos. Aos berros arrastou o empregado pelos cabelos até o pátio onde um técnico agrícola também já tinha sido rendido. Os dois ficaram sob mira de armas e ameaças, até que foram levados para um banheiro onde a mulher já estava presa.

Iniciada essa "ocupação pacífica", chegaram então os ônibus com os 800 manifestantes. Eles permaneceram por duas horas na fazenda e disseram que foi apenas um "ato simbólico". Pois bem, durante esse "ato simbólico" os manifestantes estragaram dois tratores (retiraram o óleo diesel do motor e ligaram os veículos), cortaram a machadadas mais de 20 pneus de tratores e máquinas agrícolas, picharam a parede de um galpão com frases de ordem e símbolos do movimento e, claro, não poderia faltar jamais em um "ato simbólico" como esse, a cara de Che Guevara pintada em vermelho. Saíram, antes da Brigada Militar chegar, levando R$ 200 afanados de um dos empregados, uma motoserra stihl, uma lixadeira bosch industrial, as chaves dos alojamentos e outras coisas mais, pois este foi apenas um levantamento preliminar do prejuízo causado.

O MST parece estar se aperfeiçoando. O requinte de brutalidade em suas ações apura a cada invasão. E a cada "ato simbólico" desses, aumenta a minha convicção de que "simbólicas" são as Instituições Brasileiras que deveriam ser mantenedoras da ordem, da democracia e da cidadania.


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