quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Eleição é escolha, e não obediência

Trecho do artigo de José Nêumanne, no Estadão:
Confundindo e misturando suas simpatias pessoais com os valores da democracia que foi eleito para dirigir por soberana e maciça maioria popular, o presidente dedica ao sofrimento dos seqüestrados dos sequazes de Manuel Marulanda insensível silêncio, similar ao dedicado às vítimas da tirania de seu amigo Fidel Castro em Cuba. Ao visitar o cubano em casa, Lula perdeu uma boa oportunidade de testemunhar a farsa eleitoral realizada domingo passado para compor o Parlamento que amanhã "decidirá" o destino do anfitrião. Este, mesmo impossibilitado de fazer suas longas arengas em público, foi feito deputado por Santiago de Cuba, cidade tida como berço de sua revolução. E teve a própria higidez atestada pelo hóspede ilustre, não se sabe se por dotes desconhecidos de clínico ou de legista.

Se tivesse ficado no Caribe para testemunhar a "eleição" - ato de vontade que implica escolher, e não obedecer -, a devoção que tem pelo decano dos tiranos mundiais talvez não bastasse para impedi-lo de perceber o ridículo de uma disputa de 614 cargos por... 614 candidatos. E quem sabe não passassem despercebidas a seu senso de ridículo a expectativa em torno da "escolha" para a "definição" da sucessão do ditador e a comemoração pela ministra da Justiça, Maria Esther Reus, do elevado comparecimento às urnas: 95%.

Esta seria uma excelente oportunidade para o presidente aprender que os plebiscitos e referendos capitaneados pelo mais poderoso castrista fora de Cuba, o venezuelano Hugo Chávez, não asseguram o teor democrático do poder que ele exerce. Não há democracia sem eleições, mas a História relata muitas eleições que resultaram em tiranias que estrangularam a vontade popular, às vezes por vontade manifesta do próprio povo: são clássicos os casos de Hitler, na Alemanha, e Mussolini, na Itália. E de farsas eleitorais realizadas para mascarar ditaduras abjetas. O autor destas linhas acompanhou, pessoalmente, comícios do paraguaio Alfredo Stroessner, que sempre "disputou" seu poder em seguidas campanhas eleitorais das quais não admitia sair vitorioso com menos de 96% dos sufrágios.

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