quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Doses homeopáticas de desinformação

Ao saber que o Centro de Saúde da Univerisdade de Connecticut ia promover um "debate histórico" sobre homeopatia, convidando três cientistas de verdade e três vendedores de água em garrafinha, a comunidade dos blogueiros americanos ficou agitada. As comparações com os criacionistas - espertalhões que querem usar a bíblia para enterrar o conhecimento científico - foram imediatas. Em ambos os casos os cientistas interrompem suas pesquisas para minimizar o estrago causado pelos pseudo-cientistas irresponsáveis. O primeiro blog a se manifestar foi o do médico Orac :
The fact is, pseudoscientists, pseudohistorians, and cranks desperately want to debate accepted experts in the field in which they apply their crankery. The reason is simple. While, knowingly or (more commonly, unknowingly) they crap on science and the scientific method, at the same time they desperately crave its validation and acceptance. They desperately want to be seen as "one of the boys," whose ideas are taken seriously by scientists. Debates give them exactly what they want. Indeed, debates on college campuses (or, in the case of homeopaths, in academic medical centers) are not viewed as a means of getting at the truth, but rather as a means of P.R. Putting the pseudoscientist on the same stage as a legitimate scientist elevates the pseudoscientist unduly and mistakenly gives the impression to lay people that there is a genuine scientific controversy to be debated when the only controversy being debated is, in fact, ideological. This is because getting a scientist to agree to a debate allows them to portray their pseudoscience as being on equal footing with accepted science, or at least in the same ballpark. Thus, simply being seen on the same stage on an equal footing with a respected scientist, is a victory for the pseudoscientist. Regardless of what actually happens in the debate, it is a virtual certainty that the crank and the supporters of crankery will trumpet it as a "victory" or, at the very minimum, as a "validation" that science is beginning to take them seriously.
(...)
The other reason that debates with pseudoscientists are usually not a good idea is that the debate format (two participants) or the forum format (multiple participants) provides a huge advantage to the pseudoscientist. The reason is simple. While true scientific debates between scientists can sometimes be illuminating, pseudoscientists aren't bound by evidence or an accurate representation of the state of science. This means that they can emphasize rhetoric and debating tactics over substance. As Lenny Flank put it so accurately when discussing debates between creationists and evolution supporters:
(...)
Whenever the scientist presents a valid piece of scientific data, the creationist need simply answer with, "That's not true." It is then incumbent upon the scientist to spend twenty minutes explaining why it is true. Meanwhile, the scientist's basic message will not be getting out; the creationist's will.
O fato é que pseudo-cientistas, pseudo-historiadores e falsários querem deseperadamente debater com experts reconhecidos no campo onde eles aplicam seus engodos. A razão é simples. Ao mesmo tempo em que eles reconhecida, ou mais comumente, não reconhecidamente, fazem pouco da Ciência e do método científico, eles desejam desesperadamente sua validação e aceitação. Eles querem ser vistos como "um deles", cujas idéias são levadas a sério pelos cientistas. Debates dão a eles exatamente o que eles querem. De fato, debates em campus universitários (ou, no caso dos homeopatas, em centros médicos acadêmicos) não são vistos como um meio de se chegar à verdade, mas sim como um meio de publicidade. Colocando o pseudo-cientista no mesmo palco que um cientista legítimo eleva desproporcionalmente o pseudo-cientista e dá erroneamente aos leigos a impressão de que de que há uma controvérsia científica genuína a ser debatida quando a única controvérsia sendo debatida é, de fato, ideológica. Isso se dá porque fazer um cientista concordar com o debate lhes permite retratar sua pseudo-ciência como sendo do mesmo patamar que a ciência aceita, ou no mínimo de um patamar parecido. Então o simples fato de estar no mesmo palco, num mesmo patamar com um cientista respeitado já é uma vitória para o pseudo-cientista. Não importa o que aconteça de fato no debate, é quase certo que o falsário e os correligionários do embuste vão declarar aos quatro cantos como sendo uma "vitória" ou, no mínimo, como uma "validação" de que a Ciência está começando a levá-los a sério.
(...) A outra razão pela qual debates com pseudo-cientistas geralmente não são uma boa idéia é que o formato de debate (dois participantes) ou o formato de fórum (vários participantes) dá imensa vantagem ao pseudo-cientista. A razão é simples. Enquanto verdadeiros debates científicos entre cientistas podem ser esclarecedores, pseudo-cientistas não têm compromisso com a evidência ou com uma representação apurada do estado da Ciência. Isto quer dizer que eles podem enfatizar a retórica e táticas de debate em detrimento do conteúdo. Como Lenny Flank disse muito apropriadamente quando discutindo debates entre criacionistas e evolucionistas:
(...) Sempre que o cientista apresentar uma peça válida de dados científicos, o criacionista precisa apenas dizer "isso não é verdade". Então recai sobre o cientista a responsabilidade de gastar vinte minutos explicando por quê é verdade. Enquanto isso, as mensagem básica do cientista não vai ser transmitida. A do criacionista vai.

Infelizmente no Brasil a promiscuidade entre homeopatas (que respeitosamente traduzi como "falsários") e a Academia atingiu um ponto em que fica difícil detectar quem é o cientista e quem é o alquimista. Grosso modo, um cientista é reconhecido pela comunidade científica, que publica em periódicos com revisão por pares - "peer reviewed"-, e seu salário não está atrelado a uma conclusão específica de sua pesquisa. Já os homeopatas (e outros casos patológicos) são financiados pela indústria que defendem (ou seja, nunca publicarão uma pesquisa que contradiga os "benefícios" de suas águas bentas), e proclamam que livros, artigos midiáticos e "palestras" são prova científica. Como li outro dia, "eu não quero saber qual candidato acredita ou não em Evolução, eu quero saber qual candidato conhece Evolução".

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