domingo, 13 de maio de 2012

Artigos de Jorge Guimarães e Erik Camarano, publicados no Jornal da Ciência

Apenas dois comentários rápidos sobre um texto que deve servir de exemplo sobre como não usar números (ou melhor, como torturá-los para que contem o que se quer ouvir).
Reforma da educação e os estudantes de SP, artigo de Jorge Guimarães -- JC
No período entre 2000 e 2010, enquanto no Brasil (exceto São Paulo) o número de concluintes de ensino médio aumentou em 134 mil, em São Paulo, houve queda de 196 mil.
Talvez os outros estados estejam mesmo de parabéns; talvez alguns estados tenham passado a ver esse número como um fim em si; talvez esses números reflitam uma variação nas taxas de natalidade ou migração; talvez essas taxas sejam produto de ascensão econômica (famílias em melhores condições tem menos filhos); talvez haja uma variabilidade dentro dos estados que não seja representada por esse número. Nada disso se discute no artigo, que prossegue:
Apesar da riqueza de São Paulo, cuja renda per capita é superior a de países como Chile, México e Uruguai, no teste internacional Pisa o estado ficou atrás de todos.
Já é complicado comparar renda per capita sem levar em conta o poder de compra, e é muito mais complicado comparar a renda de um estado com a renda de um país -- dado que um estado pode ser um pagador ou recebedor líquido de impostos federais, enquanto o mesmo não se aplica a um país. Outro problema é que indicadores educacionais são consequência de investimento passado em educação, muito mais que da situação presente. Outro problema é a falta de comparação com outros estados do Brasil (a negligência é confinada a São Paulo, ou há outros estados com desempenho abaixo do esperado? Ou o problema é nacional e o Brasil, como um todo, tem desempenho pior que outros países economicamente parecidos?).

A situação da educação básica no Brasil é crítica -- infinitamente pior que a situação do ensino superior -- e é bom saber que há gente olhando para o problema. Mas o artigo como está escrito parece mais panfleto pró-governo e anti-São Paulo, nada acadêmico e pouco producente caso o objetivo seja melhorar a educação em todo o Brasil. O artigo tem outros problemas, como um coletivo desconhecido ao qual o autor se refere ("criamos o ProUni", "dobramos as vagas de ingresso"), uso de indicadores ao mesmo tempo que critica os vestibulares, e crítica à resistência de São Paulo em formar mais doutores, assumindo que tal aumento é desejável.

Um artigo mais informativo que não coloca estado contra estado (ou "o Brasil progride, apesar de São Paulo") é o que segue.

Educação: as mudanças de que o Brasil precisa, artigo de Erik Camarano -- JC
O quadro piora no fim do ensino médio: apenas 11% dos alunos têm o desempenho desejável, sendo que no Norte esse percentual cai para 4,9% e, no Nordeste, para 6,8%.
O cenário exige soluções inovadoras, metas claramente definidas e um choque na gestão educacional, com engajamento direto da sociedade. A primeira parte da agenda, da inclusão dos alunos em sala de aula, não se resolve apenas com investimentos públicos em expansão da oferta educacional. (...)
Sindicatos de professores País afora ainda gritam contra a ideia de que o desempenho estudantil pode sim ser medido e diretamente correlacionado à efetiva atuação do professor em sala de aula, com recompensa para os que têm melhor performance. Isso foi feito nos países que trataram a educação com seriedade.

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